quarta-feira, 26 de março de 2014

25 DE MARÇO O FIM DA ESCRAVATURA O COMEÇO PRA LIBERDADE

      
A CASA DO
ENFICADO

Como poderia imaginar que um dia alguém iria lembrar daquela lendária história que parecia ter perdido-se no tempo. A história deixa marcas no tempo, marcas que não se apagam, são feridas que cicatrisam-se. Uma coisa ou outra parece ficar esquecida, no entanto  as vozes dos mais antigos ecoam  como em conchas acústicas  e se propagam como nas ondas dos rádios, e  o velho ditado prevalece, só sei que foi assim.
Ao comemorar-se aquele dia  os adultos falavam em conciencia, as crianças ouviam atentamente o sermão do vigário  que falava da liberdade e em favor da vida, da luta contra a descriminação racial, falava de luta de classes e lembra como os negros foram massacrados pelos  seus senhores nas antigas senzalas, debaixo de chicotes e trabalhos forçados. Foi bem ali naquele terreiro, onde só haviam as marcas profundas  do sofrimento no tronco. Embora com suas estruturas bastante comprometida ainda mantia-se de pé o símbolo do poder dos senhores da terra, do gado e dos escravos.  Estava bem ali, diante dos  olhos das pessoas, um patrimônio histórico sem dúvida, o velho casarão do Sr. Barão de Aquiráz, um casarão que certamente fora erguido pela mão de obra escrava, que fora tão belo no passado, digamos que de passagem,  símbolo da força e do poder estava alí ainda de pé, em ruínas e frágil, sem força, abandonado, aparentimente sem sentido nenhum. Quem diria, que a famosa residência do Barão um dia seria esquecido pelo próprio tempo, tão belo e tão robusto, tão cheio de  lendas, com tantas histórias pra contar. Uma dessas histórias ainda é contada pelos mais antigos e repetida pelos mais jovens.  A veracidade desse conto, está bem ali diante de nossos olhos, no terreiro da casa do Enficado. Uma enorme rocha, bem próxima de sua apoteótica obra ou seja, seu belo palacete com uma enorme pedra que supostamente serviria como um dos degraus da casa bem na parte da frente embelezando mais ainda aquela monumento em que    todos os serviçais se curvavam, sentiam-se cada vez mais impotentes diante de tamanho poder.
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Naquele dia o Barão de           Aquiraz ordenou ao seu capataz, o carrasco aquele que amedrontava e maltratava os escravos com suas ameaças e a ponta do seu chicote, a ordem seria que  escolhido o mais forte, robusto e corajoso negro a pegar a enorme pedra sem ajuda de nenhum outro companheiro e a conduzisse até a varanda da casa do Enficado. Ele queria  com isso a todo custo que essa fosse a pedra que serviria de degrau para aporta de entrada do casa grande. A gigantesca rocha  ficava bem distante da residência do do Barão, de tal forma que nenhum ser humano seria capaz de conduzi-la até a varanda do Enficado. Más o Barão não queria  demonstrar nenhuma fraqueza diante do seu poder, mesmo reconhecendo que seria impossível tal proeza, não deu ouvidos se quer a Baronesa e a  a Sinhá Moça que embora fizessem parte de todo aquele complexo tinham sensibilidade o bastante para compreender a o ato de  desumanidade e crueldade que  ali estava sendo aplicado com aquele ser humano. O Barão não era homem de duas palavras, para ele voltar a traz seria uma demonstração de fraqueza perante toda a senzala e seus subalternos uma desonra na verdade. O jovem negro fez-se forte em sua ação, cumpriu naquele momento perante seus irmãos uma atitude coragem e confiança em si mesmo, em nenhum momento fraquejou e muito menos humilhou-se perante ao patrão, não implorou clemência,  ergueu a enorme pedra e cambaleando a carregou lentamente ao  terreiro da Enficado, mesmo sobre as ameaças do carrasco,  sentia-se cada vez mais mais forte, de maneira covarde e cruel o negro foi espancado e  algumas vezes parecia que ia tombar, cair e não mais levantar.Diante dos seus irmãos sentia-se um   glorioso guerreiro. Todos o admiravam e ao mesmo tempo sofria tanto  quanto ele naquele martírio interminavel. Apesar de tanta força e coragem o pobre escravo não suportou tamanho  sofrimento e ao aproximar-se da varanda  da casa grande perdeu toda as suas energias,  tombando diante dos olhos do patrão, cambaleou, não suportou o peso da pedra que  ao cair deu o último suspiro. Conta=se que a enorme pedra caiu junto com o jovem escravo sobre o seu corpo, ficando sobre ele as marcas da crueldade do Barão. Simbolizada pelo peso  da grande rocha e a força do seu patrão não o fez fraco naquela ocasião. Conta-se que o escravo morreu debaixo da pedra e que após o acontecimento aquela pedra nuca foi removida e até hoje  permanece  no mesmo lugar junto ao corpo do escravo, está lá pra quem quiser ver, é só ir lá para  conferir. Eu ainda não vi não, mas te digo com toda franqueza, a casa do Enficado existe, foi o símbolo do poder dominante da época, más a pedra também existe, ele é o símbolo da resistência do escravidão, do negro da época e de hoje, todo dia é dia de consciência negra.
 Assaré,03 de dezembro de 2009.


Cleodon de oliveira

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