segunda-feira, 30 de setembro de 2013

TELA E PALCO, CINEMA E TEATRO.

                     TELA E PALCO,
        UAMA HISTÓRIA       PRA SE CONTAR.
A curiosidade matou o rato, uma expressão bem conhecida de todos. Eu preferi matar a curiosidade, feito menino buliçoso, e fui revirando coisas, folheando páginas de livros já fora de moda. Enfim, fui mexendo nas minhas memórias e mais ainda nas dos outros, principalmente naqueles que se preocuparam em registrar fatos de grande relevância ou mesmo aqueles aparentemente sem muita importância.
            Um fato que me chamou muito a atenção se deu na década de 20 no município de Iguatu, mais precisamente em 1925, quando o historiador Hugo Victor fala com muita convicção do desenvolvimento e da modernidade que vem se instalando na cidade como característica da época. Quando nos deparamos com a realidade de hoje parece um pouco engraçado quando ele se refere a Iguatu como uma cidade moderna que ganhou o status de desenvolvimento principalmente com a chegada da linha férrea em 1910.  O autor expressa a palavra modernidade com muita veemência, pois a obra trouxe vários benefícios,  que pouco a pouco foram chegando à cidade. Isso não deixa de ser verdade. Dentre essas características, foi aí que algo chamou mais ainda minha atenção, pelo fato de se tratar da cultura, assunto que desperta meu interesse.
            Imaginemos bem no inicio do século XX, no interior do Ceará, mais precisamente no centro sul, uma cidade com uma população urbana de cerca de 5000 habitantes já dispor uma sala de espetáculos para  cinema e teatro. Isso para mim já é algo extraordinário, porém, o curioso era não se tratar apenas de um simples e pequeno espaço para espetáculos, mas, de fato, de um grande teatro para os padrões da época. Suas características eram de um teatro extremamente bem estruturado, inclusive era considerado um dos melhores teatros construídos no Ceará e o melhor do interior. Era um vasto teatro e com uma belíssima aparência, possuía 400 cadeiras bem confortáveis e delicadas, com duas alas de frisa. O prédio tinha sessenta e três janelas laterais, palco para teatro e tela de cinema para exibição de filmes. Era, portanto, ao mesmo tempo cinema e teatro. Ainda se dispunha de bilheterias e uma confortável sala de espera com um barzinho.
            Esse belíssimo cine teatro pertenceu aos Srs. Handan e Barreto e tinha o nome de Cine Teatro Guarany. Estava localizado à Praça Justiniano  de Serpa, que posteriormente passou a ser Praça Gonçalves de Carvalho e hoje é conhecida por Praça da Caixa Econômica. Segundo os mais antigos, o Cine Teatro Guarany teve vida útil até final dos anos 50 e inicio dos anos 60, tendo  em sua história fatos bastante interessantes, como a passagem da Cia de Teatro Procópio Ferreira. Também grandes sucessos do cinema mudo foram exibidos em sua tela. Do ponto de vista da produção local, o teatro de Deise Teixeira realizou trabalhos de dramaturgia naquella casa e um dos que marcou época foi A Louca do Jardin. Infelizmente, quando se trata de arte e cultura os registros se perdem com o tempo e a memória vai ficando na lixeira cada vez mais descartável, bem curtinha.
            Ainda se tratando desse patrimônio material que resistiu até os meados dos anos 70, tive a oportunidade de conhecer o prédio, porém, sem suas funções da qual foi concebido. Apreciei apenas a obra arquitetônica, que foi demolida em nome do “desenvolvimento” e da “prosperidade”. No entanto bem antes de ser destruído, aquele prédio teve outras utilidades, não do espírito cultural, mas de cunho mercantilista, comercial. Utilizado para armazém, abrigou também um dos primeiros supermercados, conhecido como COBALl, uma estatal que funcionou durante alguns anos. Foi nessa ocasião em que a sociedade iguatuense dos anos 70 teve a oportunidade de frequentar esse local, porém, nunca imaginando que ali teria sido o espaço sagrado da sétima arte e da dramaturgia. O crime maior estava para acontecer, quando o prédio que hoje poderia  abrigar os fazedores da arte e produtores culturais,  também o que poderia ser um patrimônio histórico foi totalmente demolido para ser construída uma obra moderna, que iria  servir  para instalar o centro de comunicações em telefonia na cidade, a Tele Ceará, outra estatal.
ANTIGO CINE S. JOSÉ DEPOIS SEDE DO SENACAdicionar legenda
CINE ALVORADA 
            A cara da cidade já começava a mudar, o patrimônio histórico sofria mais uma agressão, mas a história continua o cinema ainda não tinha perdido seu espaço para a televisão e novas salas foram surgindo, entretanto o teatro só veio a se revitalizar nos anos 80.  Entre os anos 60 e 90  várias outras tentativas de salas de cinema foram feitas. Algumas delas com sucesso, durando até duas décadas e outras fracassadas. O cine São José na Praça Coronel Belizário, nos anos 60,  é um exemplo a se citar, que  mais tarde cedeu lugar ao SENAC após ser desativado. O Cine Alvorada, o mais freqüentado na história dos cinemas iguatuenses, também na Praça Coronel Belizário, que ficou conhecida por muito tempo como praça do cinema. O Cine Alvorada deu lugar ao CDL. O cinema depois de ser desativado serviu de depósito de material de construção e também casa de shows e festas. Antes de sua desativação surgiu o Cine Coliseu, com perfil de um cinema moderno, mais confortável e bem localizado, ocupando o centro histórico da cidade, a Praça da Matriz. Com a crise que se espalha por todo o país, o cinema entra em decadência, o esvaziamento o leva à falência fechando suas portas e ficando em estado de total abandono. Para ocupar esse espaço surge com muita força o movimento cultural organizado que pressiona o governo municipal a transformá-lo em um centro cultural. É criado CAC, Centro de Ativação Cultural Humberto Teixeira. O espaço nunca foi reformado para se tornar um teatro conforme os objetivos da época. Passou, portanto a ser a casa do cidadão e o depósito da merenda escolar do município. A cidade não dispondo mais de nenhum tipo de espaço para cinema foi que nos anos 90, por iniciativa do empresário João Elmo Moreno, nasce o Cine Asa Branca, no espaço de um mini Shopping, ambas as tentativas foram fracassadas, tanto a do Shopping como a do Cinema. Hoje no espaço funciona uma concessionária de motos.
DEPENDÊNCIAS INTERNAS DO CINE COLISEU
            Uma curiosidade é que quase todos esses espaços culturais foram substituídos por áreas comercias, de forma direta ou indireta. Pra fechar o nosso artigo, ainda gostaria de ressaltar a importância que teve o teatro do colégio São José, que foi palco de muitas atividades culturais no município. Esse espaço ficou por muitos anos restrito ao Colégio, portanto fechado para a comunidade. Hoje a Urca (Universidade Regional do Cariri) ocupa as dependências do Colégio São José e não tenho informações recentes sobre o Teatro. Ainda relacionado aos espaços, o teatro do SESC tem sido o mais ativo, há mais de uma década. O teatro Pedro Lima Verde também teve em sua História, foram realizadas duas mostras de teatro, a IV E V MOITA  mas logo vieram  seus momentos de apagão, ficou por cerca de 4 anos em ruínas totalmente abandonado, causando um enorme prejuízo à classe artística e produtores culturais deixando a comunidade a ver navios. Esse, ao inverso dos outros, no passado foi um centro comercial de vendas de carne, conhecido como mercado do Prado e virou um centro Cultural, o Cine Teatro Pedro Lima Verde. Essa história  merece grandes reflexões, afinal de contas qual a importância  da arte em nossas vidas, como enfrentar os demolidores da nossa cultura?


Cleodon de Oliveira
CDL PRÉDIO ONDE FUNCIONOU O ANTIGO CINE ALVORADA







ANTIGO CINE COLISEU ESPAÇO QUE FOI TAMBÉM O CENTRO DE ATIVAÇÃO CULTURAL HUMBERTO TEIXEIRA CAC IGUATU





2 comentários:

  1. Cleodon, que maravilha, muito obrigada pela viagem no tempo! Lamentamos a quase falta de incentivo à arte e cultura em nosso País... Parabéns e Sucesso!

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    1. Adriana
      Na verdade são tantas as histórias que não sei se devo levar a frente com essa discussão. Essa idéia não se limita apenas ao saudosismo, que em um dado momento realmente viajamos no tempo e em frações de segundos sainos do nosso tempo real e mergulhamos num romantismo sem precendentes e caímos num vazio sem reflexão. Um fato histórico se fragmenta e cada um acaba construindo a sua própria história, até mesmo no escurinho do cinema. Acho bacana trazer a tona esses momentos que por sua vez nos proporciona alguns segundos de grande felicidade e prazer como também reflexão é óbvio. Poxa eu podereia ter feito muito mais, ter saboreado mais aqueles delicios e valorosos dias de glória que certamente não há como reviver, pelo menos relembrar e refrescar nossas memórias. Agora é seguir em frente e procurar fazer melhor, construir uma nova história e depois não se perguntar, onde foi que errei? Não deixemos que nossas fantasias de um passado que já foi presente passou despercebido por muitas vezes e só décadas depois sacamos como aquele momento foi tão significativo pra nós. Raul já dizia que quem não tem presente se conforma com o futuro e isso é bem verdade.

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