TELA E PALCO,
UAMA HISTÓRIA PRA SE CONTAR.
A curiosidade
matou o rato, uma expressão bem conhecida de todos. Eu preferi matar a curiosidade,
feito menino buliçoso, e fui revirando coisas, folheando páginas de livros já
fora de moda. Enfim, fui mexendo nas minhas memórias e mais ainda nas dos
outros, principalmente naqueles que se preocuparam em registrar fatos de grande
relevância ou mesmo aqueles aparentemente sem muita importância.
Um fato que me chamou muito a atenção
se deu na década de 20 no município de Iguatu, mais precisamente em 1925, quando
o historiador Hugo Victor fala com muita convicção do desenvolvimento e da
modernidade que vem se instalando na cidade como característica da época.
Quando nos deparamos com a realidade de hoje parece um pouco engraçado quando
ele se refere a Iguatu como uma cidade moderna que ganhou o status de
desenvolvimento principalmente com a chegada da linha férrea em 1910. O autor expressa a palavra modernidade com
muita veemência, pois a obra trouxe vários benefícios, que pouco a pouco foram chegando à cidade. Isso
não deixa de ser verdade. Dentre essas características, foi aí que algo chamou
mais ainda minha atenção, pelo fato de se tratar da cultura, assunto que
desperta meu interesse.
Imaginemos bem no inicio do século
XX, no interior do Ceará, mais precisamente no centro sul, uma cidade com uma
população urbana de cerca de 5000 habitantes já dispor uma sala de espetáculos
para cinema e teatro. Isso para mim já é
algo extraordinário, porém, o curioso era não se tratar apenas de um simples e pequeno
espaço para espetáculos, mas, de fato, de um grande teatro para os padrões da
época. Suas características eram de um teatro extremamente bem estruturado, inclusive
era considerado um dos melhores teatros construídos no Ceará e o melhor do interior.
Era um vasto teatro e com uma belíssima aparência, possuía 400 cadeiras bem
confortáveis e delicadas, com duas alas de frisa. O prédio tinha sessenta e
três janelas laterais, palco para teatro e tela de cinema para exibição de
filmes. Era, portanto, ao mesmo tempo cinema e teatro. Ainda se dispunha de
bilheterias e uma confortável sala de espera com um barzinho.
Esse belíssimo cine teatro pertenceu
aos Srs. Handan e Barreto e tinha o nome de Cine Teatro Guarany. Estava
localizado à Praça Justiniano de Serpa, que
posteriormente passou a ser Praça Gonçalves de Carvalho e hoje é conhecida por Praça
da Caixa Econômica. Segundo os mais antigos, o Cine Teatro Guarany teve vida
útil até final dos anos 50 e inicio dos anos 60, tendo em sua história fatos bastante interessantes,
como a passagem da Cia de Teatro Procópio Ferreira. Também grandes sucessos do
cinema mudo foram exibidos em sua tela. Do ponto de vista da produção local, o
teatro de Deise Teixeira realizou trabalhos de dramaturgia naquella casa e um
dos que marcou época foi A Louca do Jardin.
Infelizmente, quando se trata de arte e cultura os registros se perdem com o
tempo e a memória vai ficando na lixeira cada vez mais descartável, bem
curtinha.
Ainda se tratando desse patrimônio
material que resistiu até os meados dos anos 70, tive a oportunidade de conhecer
o prédio, porém, sem suas funções da qual foi concebido. Apreciei apenas a obra
arquitetônica, que foi demolida em nome do “desenvolvimento” e da “prosperidade”.
No entanto bem antes de ser destruído, aquele prédio teve outras utilidades,
não do espírito cultural, mas de cunho mercantilista, comercial. Utilizado para
armazém, abrigou também um dos primeiros supermercados, conhecido como COBALl,
uma estatal que funcionou durante alguns anos. Foi nessa ocasião em que a sociedade
iguatuense dos anos 70 teve a oportunidade de frequentar esse local, porém,
nunca imaginando que ali teria sido o espaço sagrado da sétima arte e da
dramaturgia. O crime maior estava para acontecer, quando o prédio que hoje
poderia abrigar os fazedores da arte e
produtores culturais, também o que poderia
ser um patrimônio histórico foi totalmente demolido para ser construída uma
obra moderna, que iria servir para instalar o centro de comunicações em
telefonia na cidade, a Tele Ceará, outra estatal.
ANTIGO CINE S. JOSÉ DEPOIS SEDE DO SENACAdicionar legenda |
CINE ALVORADA |
DEPENDÊNCIAS INTERNAS DO CINE COLISEU |
Cleodon de
Oliveira
CDL PRÉDIO ONDE FUNCIONOU O ANTIGO CINE ALVORADA |
ANTIGO CINE COLISEU ESPAÇO QUE FOI TAMBÉM O CENTRO DE ATIVAÇÃO CULTURAL HUMBERTO TEIXEIRA CAC IGUATU
Cleodon, que maravilha, muito obrigada pela viagem no tempo! Lamentamos a quase falta de incentivo à arte e cultura em nosso País... Parabéns e Sucesso!
ResponderExcluirAdriana
ExcluirNa verdade são tantas as histórias que não sei se devo levar a frente com essa discussão. Essa idéia não se limita apenas ao saudosismo, que em um dado momento realmente viajamos no tempo e em frações de segundos sainos do nosso tempo real e mergulhamos num romantismo sem precendentes e caímos num vazio sem reflexão. Um fato histórico se fragmenta e cada um acaba construindo a sua própria história, até mesmo no escurinho do cinema. Acho bacana trazer a tona esses momentos que por sua vez nos proporciona alguns segundos de grande felicidade e prazer como também reflexão é óbvio. Poxa eu podereia ter feito muito mais, ter saboreado mais aqueles delicios e valorosos dias de glória que certamente não há como reviver, pelo menos relembrar e refrescar nossas memórias. Agora é seguir em frente e procurar fazer melhor, construir uma nova história e depois não se perguntar, onde foi que errei? Não deixemos que nossas fantasias de um passado que já foi presente passou despercebido por muitas vezes e só décadas depois sacamos como aquele momento foi tão significativo pra nós. Raul já dizia que quem não tem presente se conforma com o futuro e isso é bem verdade.
Atualmente em 2024, Iguatu não tem um Centro Cultural, o Teatro Pedro Lima Verde , estavquasecque totalmente destruído
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